As técnicas de otoplastia são utilizadas para correção de uma série de deformidades auriculares, como a orelha de abano. Existe um grande número de manobras cirúrgicas com o objetivo de corrigir estas deformidades, incluindo a remoção, raspagem, reposicionamento e suturas da cartilagem da orelha.
A orelha de abano possui incidência de 5% da população. Observam-se comumente duas alterações principais. Um subdesenvolvimento do sulco anti-helical e um desenvolvimento em excesso da concha. Embora a orelha de abano seja uma situação benigna, muitos estudos mostram que esta deformidade das orelhas pode causar um estresse psicológico, trauma emocional e problemas comportamentais nas crianças.
A primeira otoplastia foi realizada em 1845, para o tratamento de um caso de orelha de abano decorrente a um acidente. Desde então, muitas técnicas foram desenvolvidas para a correção das orelhas.
Anatomia da Orelha
A orelha é um complexo formado por pele e cartilagem apresentando uma série de dobras e pregas características. Os cinco elementos principais da orelha são: Concha, hélice, anti – hélice, tragus e lóbulo.
A única diferença entre a orelha do recém-nascido e do adulto é a consistência, ou seja, a orelha do recém-nascido é mais mole e maleável, porém a anatomia é a mesma.
Quando a criança tem 3 anos, sua orelha já possui 85 % do tamanho da orelha do adulto. Por volta dos 7 anos a orelha da criança já tem a largura da orelha de adulto e por volta dos 13 anos a orelha chega ao comprimento do adulto. À medida que os anos passam a cartilagem da orelha se torna mais rígida e calcificada.
As principais alterações anatômicas da orelha de abano são:
1. Aumento ou excesso das conchas;
2. Formação inadequada do sulco anti helical;
3. Ângulo conchoescafal maior que 90 graus;
A melhor idade para a realização dessa cirurgia é determinada baseada no crescimento da orelha e na idade em que a criança é matriculada na escola. De maneira geral, deve realizar este tipo de cirurgia na idade pré-escolar, antes da criança ir para a escola. No entanto, na vida moderna, as crianças cada vez mais cedo vão para as escolas. A orelha está praticamente formada próximo aos sete anos de idade, deste modo, é a idade recomendada para a correção das orelhas de abano.
Existe a possibilidade de correção das orelhas de abano sem cirurgia, no entanto na maioria das vezes o resultado é ruim. O tratamento consiste no uso de um molde de orelha para a mudança da forma e correção do abano. No entanto, esta técnica apenas pode ter resultados quando se inicia o uso até o terceiro dia de vida. Deve-se usar o molde por 6 meses. Alguns estudos mostram que enquanto houver hormônios da mãe (estrógeno) no bebê , a cartilagem poderá ser moldada.
Como é realizada a otoplastia?
A cirurgia de correção de orelha de abano pode ser realizada com anestesia local, anestesia local e sedação ou anestesia geral. Em média o procedimento tem duração de 1 a 2 horas e não há necessidade de internação.
A técnica depende das deformidades encontradas em cada caso de orelha de abano. A mudança da forma da orelha pode ser realizada utilizando 3 táticas cirúrgicas.
1. Sutura da cartilagem: Esta técnica consiste na realização de pontos de fixação da orelha e suturas para a moldagem da orelha.
2. Raspagem da cartilagem: A cartilagem possui uma propriedade chamada de “fenômeno de Gibson”, ou seja, quando uma face da cartilagem é raspada, a mesma tende a se dobrar para o outro lado.
3. Remoção parcial da cartilagem: Alguns casos de orelha de abano existe um excesso de concha , nestes casos recomenda-se a retirada de parte da concha.
A incisão para a otoplastia fica escondida na parte posterior das orelhas. Após a abertura da pele são realizadas as manobras necessárias para a moldagem da orelha, seja a sutura, raspagem ou remoção de parte da cartilagem.
Ao final da cirurgia é realizada a confecção do curativo em “capacete”.
Recuperação da otoplastia
Após a cirurgia não há necessidade de remoção dos pontos, já que nossa equipe utiliza fios absorvíveis.
Podem aparecer algumas manchas roxas (equimoses) após a correção da orelha de abano. Deve-se evitar a exposição até o completo desaparecimento das manchas.
É normal que as orelhas apresentem algum grau de inchaço após a cirurgia, recomendamos dormir com dois travesseiros para redução do inchaço.
No pós-operatório recomendamos a utilização de uma faixa do tipo “testeira” para que as orelhas cicatrizem na posição desejada . Não há necessidade de uso contínuo. Em geral recomendamos utilizar por um período de 12 horas/ dia por 4 semanas.
Embora já se observe mudança da forma da orelha imediatamente após a otoplastia, o resultado definitivo é com 6 meses de cirurgia.
Complicações da otoplastia
As principais complicações incluem:
1. Hematoma: Coleção de sangue na região operada. O tratamento consiste na drenagem do hematoma, revisão da hemostasia e curativo compressivo.
2. Infecção: Geralmente é causada por bactérias da flora da pele . O tratamento é feito com antibióticos.
3. Recidiva do abano: A cartilagem auricular possui um propriedade chamada memória, ou seja, mesmo com as manobras cirúrgicas a orelha pode voltar total ou parcialmente a sua forma original. A adequada programação cirúrgica e execução da técnica evita deformidades tardia da orelha.