A queda de cabelo afeta homens e mulheres em todas as idades e compromete significativamente o comportamento psicológico e social. Embora possua várias causas, uma história clínica cuidadosa, com uma atenção especial para as características da queda do cabelo, associado a testes simples, pode-se chegar a um diagnóstico na imensa maioria dos casos.
O primeiro passo para se diagnosticar a causa é conhecer seu ciclo de vida, já que todas as causas afetam de alguma maneira o ciclo de vida do cabelo.
A maior parte dos fios de cabelos do couro cabeludo encontra-se na fase de crescimento capilar, a fase anágena. Cerca de 85% a 90% dos fios estão crescendo. Essa fase tem duração de 3 a 5 anos. A próxima fase tem duração de algumas semanas e é um período de transição (fase catágena). Em média 2% a 3% dos fios estão nesta fase. E, finalmente, os cabelos entram na fase telógena, que refere-se a fase de queda capilar, onde cerca de 10% a 15% dos fios encontram-se nesta fase.
Possuímos no couro cabeludo de 100 mil a 150 mil fios de cabelos, que possuem velocidade de crescimento de 0,35 milímetros por dia ou 1 cm por mês. Isso faz com que a produção diária de proteína queratina seja de 35 metros. Isso mesmo, 100.000 fios X 0,35 milímetros = 35 metros de proteína por dia. Isto explica o fato de quadros de desnutrição, dietas restritivas, falta de vitaminas e deficiência de ferro causarem queda de cabelo.
Em média, perdemos 40 a 100 fios de cabelos por dia, sendo que nos dias em que os cabelos são lavados a perda é maior. Para cada cabelo perdido pela queda natural (a queda da fase telógena), outro fio é reposto.
Na investigação deve-se focar em quando a queda cabelo se iniciou, se foi gradual ou maciça, se ocorreu algum tipo de estresse físico, mental ou emocional nos últimos três meses antes do início. É importante esclarecer se o cabelo está afinando ou está ocorrendo uma queda franca dos fios.
Outro ponto importante a se analisar é o padrão de acometimento da queda capilar, sendo muito útil a identificação se a queda é difusa ou se é localizada.
Queda de cabelo ou quebra capilar?
Existem condições que promovem o aumento da fragilidade do fio de cabelo. Desse modo, ocorre a quebra do fio, diminuindo o volume capilar. As causas de aumento da fragilidade do fio incluem doenças infecciosas, como a tinea capitis, problemas psicológicos como a tricotilomania, doenças próprias do fio de cabelo, porém a situação mais comum são cuidados inapropriados com os cabelos ou o uso inapropriado de cosméticos.
São exemplos de cuidados inapropriados com o cabelo:
– Uso freqüente de calor excessivo – chapinha, secador etc;
– Clareamentos freqüentes, em especial produtos de baixa qualidade;
– Permanentes;
– Relaxantes químicos em excesso;
Pontos importantes (dicas) a se investigar e relação com as causas
Transtorno psiquiátrico (psicose, ansiedade, transtorno obsessivo) | Tricotilomania |
Estresse físico (cirurgia, parto, dietas restritivas), grande estresse psicológico. | Eflúvio telogeno |
Hábito de usar os cabelos sempre presos, tranças apertadas | Alopecia por tração |
Sinais os sintomas de anormalidades hormonais, hirsurtismo (aparecimento de pêlos), falta de menstruação, hipotireoismo. | Alopecia areata, eflúvio telogeno, alopecia androgenética feminina. |
A queda de cabelo é muito estressante para o paciente devido o seu efeito sobre a aparência, no entanto, esse problema vai além de estético. Não se pode subestimar a importância, tanto como condição de saúde quanto de situação cosmética. Portanto, a avaliação da queixa de queda deve incluir a história clínica pessoal e familiar, exame físico e em alguns casos exames complementar.
Tipos de queda de cabelo
A maior parte da das causas podem ser categorizados em dois tipos:
• Não cicatricial (potencialmente reversível, ou seja, o folículo piloso está viável)
• Cicatricial
Não Cicatricial
A queda de cabelo não cicatricial, por sua vez, tem vários subtipos:
– Eflúvio telógeno
– A alopecia androgenética (calvície comum)
– Alopecia areata (isolada ou recorrente)
– Alopecia de Tração (causada por puxar o cabelo)
– Tricotilomania (arrancar os cabelos de maneira compulsiva).
– Alopecia Androgenética: Para saber mais clique clique no link – calvície masculina e calvície feminina
Eflúvio telógeno
Eflúvio telógeno é um tipo comum que ocorre devido uma mudança precoce na fase do ciclo de vida do cabelo, ou seja, os cabelos que estão na fase de crescimento, por algum motivo, passam para a fase de queda. Normalmente, cerca de 90% dos fios de cabelos encontram-se na fase anágena ou fase de crescimento, enquanto que 10 % dos fios de cabelos encontram-se na fase telógena, que é a fase de queda do cabelo. No eflúvio telógeno, essa proporção muda para 70% dos fios na fase anágena e 30% na fase telógena.
O eflúvio telógeno se apresenta como uma queda de cabelo franca, sendo que os pacientes percebem os fios de cabelos no chuveiro, no travesseiro e na roupa. Normalmente perdemos até 100 fios de cabelos por dia. O paciente com eflúvio telógeno perde de 150 a 400 fios por dia. Embora a quantidade de fios perdida por dia seja grande, o paciente apenas irá perceber redução do volume capilar quando perder de 30% a 50% dos cabelos.
A causa deste tipo de queda está relacionada a eventos que promovem algum tipo de agressão para o organismo. Em geral, este evento antecede a queda de cabelo em 3 a 6 meses. Veja a tabela das causas de eflúvio telógeno:
Causas de eflúvio telógeno
• Parto
• infecção grave
• doença crônica grave
• estresse psicológico grave
• Cirurgia de grande porte
• O hipotireoidismo ou hipertireoidismo
• A anemia ferropriva
• Dietas radicais, restritivas
• Medicamentos.
O diagnóstico do eflúvio telógeno e feito através de uma história clínica bem conduzida, onde se identifica o fator causal. No exame clínico observa-se uma queda de cabelo difusa, podendo estar presente um afinamento capilar nas axilas e pêlos pubianos.
O teste diagnóstico neste tipo é o teste de tração. O examinador separa 40 a 60 fios de cabelos e faz uma tração contínua da base do fio até a sua ponta. Caso sejam retirados até 10% dos fios tracionados, o exame é considerado normal.
O tratamento do eflúvio telógeno relaciona-se com a identificação do fator causal e sua correção.
Alopecia areata
A alopecia areata se caracteriza pela queda localizada, formando falhas no couro cabeludo. A alopecia areata pode acometer todo o couro cabeludo – alopecia areata totalis, ou ainda acometer todo o corpo – alopecia areata universalis, situação em que todos os pelos do corpo são perdidos.
A causa da alopecia areata está relacionada a uma reação autoimune, ou seja, por uma motivo não muito bem conhecido, o próprio sistema imune promove uma inflamação local, causando a queda do cabelo.
Este tipo de queda de cabelo ocorre em 0,1% a 0,2 % da população. A alteração clínica característica da alopecia areata é a deformação do fio de cabelo em ponto de exclamação, ou seja, a porção proximal do fio é fina, enquanto a porção distal é grossa.
A recuperação espontânea ocorre geralmente de 6 a 12 meses após o início da queda capilar, porém este tipo de queda possui evolução imprevisível. A chance do cabelo voltar a cair novamente é de 30% e geralmente ocorre na mesma região. Existem situações em que a alopecia areata tende a ser pior, como:
1. Casos com duração maior que um ano;
2. Quadros que iniciam ou pioram antes da puberdade;
3. História familiar de alopecia areata, atopia ou síndrome de Down.
O diagnóstico da alopecia areata é clínico, ou seja, baseado na história do paciente e nos achados de exame físico. Porém em alguns casos pode ser necessária a realização de uma biópsia de couro cabeludo.
O tratamento da alopecia areata é dependente da extensão da doença e da idade do paciente. Para pacientes adultos com área de alopecia menor que 50% do couro cabeludo, o tratamento de primeira linha é infiltração de corticóide. No entanto, outras classes de medicamentos podem ser utilizadas e a decisão é feita após a análise de cada caso individualmente. Tabela:
Alopecia Areata – Tratamento
imunomoduladores
corticosteróides
Anthralina (Anthra-Derm)
PUVA ( Psolareno + UVA )
Sensibilizadores por contato (experimental)
dinitroclorobenzeno
Modificadores de resposta biológica
Minoxidil
Alopecia por tração
Este tipo de queda de cabelo está relacionado à tração excessiva dos fios causada por diferentes penteados. Em geral acomete mulheres que possuem cabelos crespos e utilizam com freqüência os cabelos presos de maneira apertada, como tranças e rabo de cavalo.
As regiões mais acometidas incluem a região frontal e temporal, embora isso possa variar, dependendo da região que está sendo tracionada.
O tratamento da alopecia por tração inclui orientação quanto ao estilo do cabelo. A paciente deve ser aconselhada a não utilizar mais os cabelos presos.
Após a mudança dos hábitos, as regiões em que houve a queda tendem a melhorar, dependendo do tempo em que os fios permaneceram tracionados. Portanto, há possibilidade da queda de cabelo ser definitiva.
Tricotilomania
Trata-se de uma condição clínica relacionada a compulsão de puxar o cabelo. É o tipo de queda de cabelo mais comum na infância, geralmente inicia-se mais cedo em meninos que meninas.
A queda relacionada à tricotilomania acomete principalmente o couro cabeludo, embora possa ocorrer nos cílios e sobrancelhas. Na tricotilomania, as falhas no cabelo possuem aspecto bizarro, observando fios de diferentes comprimentos e o couro cabeludo pode ficar avermelhado na região.
A tricotilomania não possui causas óbvias, está relacionada tanto com situações de transtornos como ansiedade e depressão, quanto desordens mentais.
O tratamento da tricotilomania inclui avaliação e aconselhamento psicológico.
Tinea Captis
A Tinea Capitis é uma infecção fúngica do couro cabeludo causada por espécies de Microsporum ou Trycophyton. Em geral, acomete pacientes pré-puberais.
Nesse tipo de queda de cabelo pode ocorrer uma perda capilar ampla, associado à fragilidade de fios e consequentemente quebra dos fios.
O tratamento inclui o uso de medicamentos antifúngicos.
Alopecia cicatricial
Corresponde a queda permanente decorrente a destruição do reservatório de células tronco localizadas na unidade folicular.
A alopecia cicatricial pode ser causada por uma série de doenças, como foliculite bacteriana ou fúngica, lúpus discóide, líquen plano pilar. Ainda trauma, problemas bolhosos de pele e ainda cânceres de pele.
Assim, na alopecia cicatricial o que ocorre é uma destruição do folículo piloso, o que impede o crescimento capilar em definitivo.